sábado, 21 de março de 2015

A SOCIOLOGIA E AS REFLEXÕES SOBRE OS TEMPOS MODERNOS


Ao buscar compreender as transformações e os impactos gerados pela modernidade na desorganização da vida em sociedade, Émile Durkheim, sociólogo francês morto em 1917, já destacava a importância do que denominou de “consciência coletiva”  como algo fundamental para a “saúde” de uma sociedade.

A consciência coletiva, por sua vez, seria o conjunto de crenças, normas, moral, ideias e sentimentos comuns a média dos membros de uma sociedade, destinados a orientar a conduta social. A sociedade controla o comportamento dos indivíduos através de instituições sociais como a família, a igreja, escola, sistema político e judiciário (que executa leis elaboradas por deputados e senadores), empresas entre outras.

Para Durkheim, as regras em uma sociedade teriam a função de definir o parâmetro de conduta dos indivíduos, estabelecendo o que é considerado certo ou errado, reprovável, imoral ou criminoso.  As normas sociais são, portanto, “liga” que une a sociedade em torno de determinados valores. Se por um lado, questionamos as regras, o que aconteceria em uma sociedade sem regras ou leis, aonde todos poderiam fazer o que bem entendessem, indivíduos que, guiados pela sua própria vontade, teriam a liberdade para fazer o que lhes “desse na telha”. Será este o rumo que nossa sociedade está tomando?

Durkheim denominou anomia, a ausência de regras instituídas e orientadoras da conduta dos indivíduos. Uma sociedade sem regras claras estaria, segundo ele, em um estado de anomia. O que seria de alguém que se desvinculasse das instituições sociais para viver de maneira livre e sem regras, qual seria o limite para essa pessoa? É possível uma sociedade sem hierarquias, em que não respeitamos a autoridade, a começar pela família.

Vamos comparar a sociedade como o tráfego de trânsito. O que aconteceria se as pessoas não respeitassem as placas, desobedecessem os sinais, avançassem preferenciais, trafegassem fora de suas faixas, afinal, as vias publicas são locais onde transitam pessoas, animais e evidentemente outros veículos. 

Assim como os sinais que controlam a circulação de veículos, as regras são fundamentais para a convivência em sociedade. Para Durkeim nas sociedades modernas capitalistas, as instituições estariam enfraquecidas, fracassando em seu papel de educar, punir, em controlar a conduta de seus membros em sociedade.

Nas sociedades contemporâneas, observamos o triunfo da racionalidade e do individualismo, onde o lema é cada um por si, o ter para ser, o individual em detrimento do coletivo, vemos também o mau uso da inteligência humana para criação de armas cada vez mais potentes e destrutivas, de drogas que curam e que matam, além da forte contestação de valores tradicionais numa sociedade em constante mudança. A falta de perspectivas e a perda da identidade provocada por intensas transformações ocorridas no mundo social moderno levaram também ao individualismo, a banalização da violência e o desrespeito à vida em uma sociedade cada vez mais violenta em que as pessoas  procuram cada vez menos o diálogo para solucionar seus conflitos. Para muitos estudiosos, a anomia leva a comportamentos antissociais e criminosos.

A modernidade e seus intensos processos de mudança não forneceu novos valores que preenchessem os anteriores, capazes de regular a existência social, ficando os indivíduos desprovidos de referências normativas e valorativas que orientem suas condutas. É nesse aspecto que a anomia representa um grande risco de desagregação social. 

Durkheim concordava que o crime é um fato social normal presente em toda e qualquer  sociedade. Sua função social é reunir o grupo em torno de uma conduta socialmente repudiada por seus membros. O crime é tão necessário para o funcionamento das sociedades quanto é a repressão da criminalidade. A sociedade “adoece” quando a criminalidade atinge níveis alarmantes, ao passo que a mesma não dispõe de meios para exercer o controle sobre a criminalidade punindo a conduta considerada criminosa, sinalizando o que, para muitos, pode ser interpretado como “o crime compensa”.

Ao analisarmos o caso do Brasil, cada um de nós devemos nos perguntar até que ponto somos responsáveis por problemas sociais como a corrupção e a violência, quando compartilhamos de uma cultura em que práticas corruptas e violentas são aceitas e legitimadas por grande parcela da população, que concorda ser normal roubar, adeptos do “não voto em quem não me dá nada”, do jeitinho brasileiro em que somos ensinados desde crianças que passar a perna e levar vantagem em cima dos outros é normal e aceitável, afinal, “o mundo é dos espertos”. Somando a uma sociedade em que a corrupção é cultural, podemos citar algo ainda mais perigoso, a perda da capacidade de se indignar ou mesmo reprovar tais atos, taxados como normais “que sempre existiram e sempre existirão”, num país onde as instituições apodrecidas e corruptas como o congresso e o judiciário são apenas um reflexo do que a própria sociedade é, do que as pessoas são, aceitam e praticam em suas vidas. Se cada sociedade tem o governante que merece, todos pagam o preço.

Se não nos indignamos com a corrupção cada vez mais escancarada de políticos bandidos, o mesmo acontece com a violência. Crimes bárbaros acontecem toda hora, apresentados pela mídia como mais uma estatística. Brigas, mortes, discussões são filmadas e expostas na internet, em que criminosos e assassinos aparecem cada vez mais ousados e sem medo, se orgulhando de seus atos. No mundo virtual não faltam vídeos em que pessoas aparecem incentivando a violência, com a qual muitos parecem até se alegrar. Indivíduos parecem felizes ao presenciarem cenas em que pessoas agridem e são agredidas, a destruição e a humilhação do outro é motivo de piada e diversão para muitos, não sendo comigo, o resto não importa. 

Refletir sobre o que acontece hoje em nossa sociedade e o que será de nosso futuro é uma das tarefas da sociologia, como uma ciência que, mais do que produzir teorias para serem engavetadas, pode contribuir para buscar soluções que ajudem a melhorar a convivência dos indivíduos em sociedade, bem como pensar em alternativas que busquem minimizar os problemas sociais que nosso país enfrenta. 

Por fim, se por um lado somos controlados pelas normas que servem para legitimar interesses de determinados grupos políticos e econômicos, nós também encontramos formas de nos opor, de resistirmos a elas, contestando as verdades dominantes, criando novas normas pautadas em novos valores. Sabemos que a sociedade é dinâmica, ela muda e é feita do conflito. O conflito é positivo quando contribui pensar em soluções para resolver os problemas, por outro lado, o grande problema surge quando a sociedade não consegue trabalhar o conflito, gerando situações extremas de intolerância e violência nas relações humanas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOMENY, Helena; FREIRE-MEDEIROS, Bianca. Tempos modernos, Tempos de Sociologia. São Paulo: Editora do Brasil, 2010.
DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. 12. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
__________. As regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2001.
SANTOS, Pérsio de Oliveira. Sociologia para o ensino Médio. São Paulo, Ática, 2008.

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SOBRE A AUTORA: ANA CARMEM AGUIAR RODRIGUES (LICENCIADA EM CIÊNCIAS SOCIAIS, ESPECIALISTA EM ENSINO DE HISTÓRIA DO CEARÁ E ACADÊMICA DO CURSO DE DIREITO PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA. PROFESSORA SUPERVISORA DO PIBIB -SOCIOLOGIA NA ESCOLA DE EEFM MINISTRO JARBAS PASSARINHO EM SOBRAL-CE.) TEMOS COMO OBJETIVO CRIAR UM ESPAÇO VIRTUAL QUE POSSA SER SER COMPARTILHADO POR PROFESSORES, ALUNOS E LICENCIANDOS DE SOCIOLOGIA, PARTIR DA DIVULGAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO E O DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS, METODOLOGIAS E EXPERIÊNCIAS VOLTADAS PARA A INTERVENÇÃO, MELHORIA E DEFESA DO ENSINO DE SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA.