domingo, 1 de fevereiro de 2015

A SOCIEDADE COMO OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA


         Vivemos hoje no começo do século XXI, num mundo intensamente inquietante e, ao mesmo tempo, repleto de maiores promessas para o futuro. É um mundo inundado pela mudança, marcado por graves conflitos, tensões e divisões sociais, bem como a destruição do ambiente natural em nome da tecnologia moderna. Não obstante, temos a oportunidade de controlar nossos destinos e dar um outro rumo em nossas vidas, o que era inimaginável em gerações anteriores.
        Vivemos no contexto de uma nova ordem social que abalou as instituições políticas e econômicas, que alterou valores que repercutem diretamente nas relações entre os indivíduos, entre culturas e países, fazendo emergir novas formas de organização social  e sociabilidades.
        Como se desenvolveu este mundo? Porque as nossas condições de vida são tão diferentes das dos nossos pais e avós? Que rumos tomarão no futuro os processos de mudanças? Essas questões são as principais interrogações da Sociologia.
         A maioria de nós vê o mundo a partir das nossas próprias experiências de vida, com as quais estamos familiarizados. A Sociologia mostra que é necessário adotar um olhar diferente para compreendermos as razões pelas quais agimos. Ensina-nos que o que consideramos natural, inevitável, bom e verdadeiro pode não o ser, e que tomamos como dado nas nossas vidas é fortemente influenciado por forças históricas e sociais.
     A Sociologia é o estudo da vida social humana, sendo seu objetivo central compreender o nosso próprio comportamento enquanto seres sociais. Nesse aspecto, a maior interrogação da Sociologia é buscar respostas para compreender o que é a sociedade, de que forma os seres humanos se organizam em diferentes tipos de sociedades, criando culturas, que englobam as mais variadas formas de ser e de pensar dos povos e suas diversas visões de mundo e modos de vida que compreendem a educação, a política, a ciência e o conhecimento, os sistemas econômicos e religiosos. Tudo isto engloba a vida em sociedade. Nada existe fora da sociedade, vistos que as leis, as crenças, a produção do conhecimento são frutos das ações humanas.


A cultura antes de mim: é tarefa da Sociologia  investigar as relações entre o que a sociedade faz de nós e o que nós fazemos de nós próprios.
            As formas de convívio social são muito diversificadas, pois cada cultura, cada povo, tem suas regras particulares de convivência humana. Por outro lado, as condições de convivência podem se modificar, de acordo com certas modificações na sociedade. A situação da mulher, por exemplo, modificou-se radicalmente tanto no Brasil, como em várias outras partes do mundo. No entanto, apesar das conquistas frutos de muitas lutas por direitos, a discriminação e os vários tipos de violência contra mulher ainda são evidentes em muitos lugares.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2014/04/05/afeganistao-inicia-eleicao-presidencial.htm#fotoNav=34

Números de taxas (em 100 mil mulheres, de homicídios femininos. Brasil 1980\2010. Fonte:www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_mulher.pdf
          Na primeira imagem, mulher afegã mostra o dedo manchado de tinta após votar em um centro eleitoral de Herat, no Afeganistão, em 2014.  Apesar da obtenção do direito ao voto, as afegãs enfrentam uma situação de profunda desigualdade em relação aos homens: são forçadas pela tradição a cobrir o corpo e o rosto com a burca e a casar por determinação de suas famílias. A quem interessa manter essa tradição?
       Na segunda imagem, dados do mapa da violência demonstram que o aumento dos casos de violência contra a mulher no Brasil, triplicou em 30 anos (1980 a 2010), representando um aumento de 217,6 % nos quantitativos de mulheres vítimas de assassinato. Muitos casos de violência doméstica, podem ser entendidos a partir de traços de uma cultura autoritária e machista onde a mulher é considerada uma propriedade do homem. 

 A pesquisa sociológica é um instrumento importante utilizado pelos sociólogo para a compreensão da realidade social.

     Apesar de termos nossa própria individualidade, somos de alguma forma condicionados pela sociedade. Uma vez socializado (integrado à cultura em que vive), o homem está sujeito a regras sociais, as quais em muitos momentos de sua vida deve submeter-se. A vida do indivíduo é condicionada por decisões e escolhas que ocorrem fora de seu alcance. Se formos pensar em algo como a política, sabemos que, nas democracias modernas, embora os governantes sejam eleitos pelo voto popular – direito conquistado a partir de um longo processo histórico – o grupo que chega ao poder elabora leis e toma decisões que afetarão a vida de todos. Outro exemplo desse condicionamento é o trabalho, podemos até não gostar de trabalhar ou odiar nosso chefe, mas muitas vezes somos obrigados a nos enquadrar às regras do nosso local de trabalho, se quisermos manter o emprego, o que garante nossa sobrevivência na sociedade capitalista, onde tudo está à venda.
     Entender a sociedade em que vivemos também significa saber que há muitas diferenças e que é preciso olhar para elas. É muito diferente nascer e viver numa favela, num bairro rico, num condomínio fechado ou numa área do sertão nordestino exposto a longos períodos de seca. Essas desigualdades promovem diferentes formas de ser, de agir e de pensar nas pessoas que vivem em cada um desses ambientes.


SECA: PROBLEMA NATURAL OU POLÍTICO?


Usina de dessalinização da água do mar em Israel. 
Fonte: http://www.istoe.com.br/reportagens/137099_AS+LICOES+DE+ISRAEL

        Países como Israel, Austrália e Espanha conseguiram amenizar o problema da falta de água construindo usinas para dessalinizar a água do mar e torná-la potável.

        Israel possui uma das maiores usinas de dessalinização do mundo. Região desértica e clima árido, o país encontrou soluções para resolver o problema de escassez de água. Considerada uma tecnologia cara, empresas encontraram técnicas que baratearam  o custo da água no país. Além de promoverem uma política de combate ao desperdício, Israel possui sistemas de reaproveitamento quase total do esgoto, além da monitoração de cada milímetro cúbico de água que flui pelos canos do país por meio de redes computadorizadas capazes de diagnosticar vazamentos em tempo real.




Em Quixadá (CE) é cada vez mais raro encontrar água própria para o consumo humano. 

O Ceará passa pela pior seca dos últimos 55 anos. Dos 184 municípios que compõem o estado, 96% decretaram situação de emergência, ou seja, 176 cidades. Nestes lugares onde a chuva não chega e os mananciais estão à beira de um colapso, a água para beber é difícil e, muitas vezes, vem de carro-pipa, porém a qualidade do líquido distribuído para o consumo é desconhecida pela população. Fonte:http://oglobo.globo.com/brasil/seca-no-ceara-a-pior-dos-ultimos-55-anos-atinge-96-do-estado-13713196
        Ao buscar entender o que é a sociedade, é necessário destacarmos que a Sociologia oferece uma pluralidade de explicações e respostas, na tentativa de tentar compreendê-la. Para compreender a sociedade, partimos do princípio de que o homem possui a  constante necessidade de interagir com o outro, é só a partir do convívio com os seus semelhantes que ele se desenvolve como ser humano.
        Diante disto, dentre algumas definições para o conceito de sociedade podemos citar: 
      Do latim, “societas”, que significa “associação amistosa com outros”, a sociedade também é definida como o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, e costumes. Em outras palavras, a sociedade pode ser vista enquanto coletividade organizada e estável que ocupa o mesmo território, que fala a mesma língua, compartilha a mesma cultura, ou seja, um grupo de pessoas que se vinculam em razão de semelhanças étnicas, culturais, políticas e/ou religiosas.
       Também podemos entender sociedade como sendo todo o complexo de relações dos homens com seus semelhantes. A sociedade é caracterizada por um conjunto de relações humanas marcadas pela pluralidade, conflito e cooperação entre os indivíduos. Tais relações geram diversos tipos de instituições de caráter político, econômico, religiosos, culturais etc.
       Instituições sociais, são formas de organização social como a família, igreja, a escola, organizações governamentais estão presentes em nossa vida desde cedo, nos socializando, nos ensinando a viver em sociedade, a assimilar uma determinada cultura, a partir da difusão de valores, ideias, leis e crenças com o objetivo de influenciar nosso comportamento e direcionar nossas condutas, exercendo o controle social


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/01/1578565-
brasileiro-condenado-a-morte-na-indonesia-escolheu-ser-fuzilado-em-pe.shtml
Na imagem acima, o brasileiro condenado por tráfico de drogas na Indonésia. Sua execução gerou polêmicas, pois de acordo com as leis daquele país, o tráfico deve ser punido com a pena de morte. O governo indonésio respondeu às críticas pedindo respeito às leis locais. Além do brasileiro, uma indonésia, um holandês, dois nigerianos e um vietnamita também foram executados. As leis são exemplos de tentativa de exercer um controle sobre a conduta dos indivíduos.

CONFLITOS SOCIAIS

         Falar de sociedade é também de conflitos, motivados por diversas razões, sejam elas de origem religiosa, política, econômica, familiar entre outras. Desde o surgimento da Sociologia, muitos estudos vêm sendo desenvolvidos na tentativa de explicar as causas de conflitos que abalam as sociedades, marcadas por divisões e disputas por dinheiro e poder.
          Uma greve de operários é uma expressão de conflito que resulta da luta de classes numa sociedade, patrões querem lucrar, pagando menos e explorando mais, empregados querem maiores salários e melhores condições de trabalho. Manifestações e movimentos sociais que reivindicam direitos para mulheres, negros, homossexuais, idosos são exemplos da expressão de relações sociais em conflito. O governo que controla o aparato de poder (Estado) geralmente utiliza seu braço armado para reprimir tais movimentos. Quem já não presenciou cenas de policiais golpeando com cassetes braços, pernas, cabeças de manifestantes em nome da ordem pública da segurança. 


Policial ameaça agredir professor da rede pública estadual do Ceará em 2011. Na ocasião, os professores tentavam realizar um ato público de protesto contra o governo que respondeu violentamente contra os manifestantes que reivindicavam melhores salários e condições de trabalho, assim como o respeito aos direitos já conquistados pela categoria.

VIOLÊNCIA URBANA: PROBLEMA SOCIAL PREOCUPANTE NAS SOCIEDADES ATUAIS

       Nas sociedades atuais muitos conflitos são originados pela violência. Embora a Sociologia trate a violência a partir de diversos ângulos, sejam eles materiais ou simbólicos, a violência urbana configura-se como um problema social preocupante.

       Uma pesquisa coordenada pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz deu origem ao mapa da violência no Brasil. O estudo realizado a partir da coleta de dados de taxas de mortes violentas como homicídios em todas as regiões do país, revela resultados que acenam  para a necessidade de uma profunda discussão sobre o problema da violência no país e a urgência na implementação de políticas públicas visando minimizar o problema.  

    Para uma melhor visão e compreensão do problema da violência urbana, especificamente a que resulta em mortes por homicídio, o Mapa da Violência 2012, investiga o fenômeno do ponto de vista de diferentes segmentos etários e sociais, como junto às populações de jovens, mulheres e negros. Esta “humanização dos números”, ao dar rosto tanto para as vítimas quanto para os perpetradores de atos de violência.

As conclusões da pesquisa revelam fatos como a migração do crime para regiões do interior do país, antes consideradas seguras. O levantamento revela também que os jovens são as maiores vítimas de homicídios. Outra constatação alarmante da pesquisa é o aumento do número de casos de violência contra a mulher e a alta taxa de homicídios entre a população negra. De acordo com classificação por raça ou cor das certidões de óbito, observou-se a tendência geral desde 2002 é: queda no número absoluto de homicídios na população branca e de aumento nos números da população negra.

Quais as razões para que os negros sejam mais vitimas da violência do que os de cor branca?

         De acordo com o sociólogo, “estamos tratando com violência letal, isto é, violência em seu grau extremo, que representa a ponta visível do iceberg da modernidade de nossas relações sociais.” Para Jacobo a violência está relacionada a fatores preocupantes e que não são apenas do Brasil, e sim de dimensão quase planetária, a exemplo do alarmante incremento do consumo de drogas e do narcotráfico; além de diversas formas emergentes de dominação e controle territorial que disputam com o Estado a legitimidade do uso da violência, seja resultante do tráfico, de milícias, de madeireiras ilegais ou interesses econômicos e políticos rondando grandes empreendimentos agrícolas no arco do desmatamento. O autor também chama atenção para o enorme peso de uma cultura da violência, onde as pessoas resolvem os conflitos pela via do extermínio do próximo, cultura que, pelos dados disponíveis, está se espalhando no país, contribuindo para uma banalização da violência, onde a vida do ser humano, principalmente sendo este pobre, tem pouco valor.

Fonte: http://www.opovo.com.br/app/fortaleza/2014/11/30/noticiafortaleza,3355782/jovem-e-assassinado-na-avenida-beira-mar.shtml 

         Na imagem acima, jovem de 24 anos é assassinato a tiros na Avenida Beira Mar em Fortaleza. Testemunhas afirmaram que o mesmo já respondia por assalto e tráfico de drogas. De acordo com pesquisas internacionais, a cidade é considerada oitava mais violenta do mundo. No Brasil, centenas de jovens perdem a vida por algum tipo de envolvimento com o trafico de drogas.

       Podemos acrescentar aos fatores acima citados, o alto de grau de impunidade reinante no país, sinalizando para sociedade que o crime compensa, pois o transgressor não será punido, além da corrupção dos agentes públicos no âmbito estatal, seja no âmbito político e judiciário. 

Na imagem acima, o desembargador Luiz Gerardo de Pontes Brígido, presidente do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE) que admitiu haver um esquema de venda de habeas corpus para traficantes de drogas durante os plantões judiciários, nos fins de semana e feriados. De acordo com o mesmo, a venda ocorria desde 2011: “Temos indícios de que há uma rede organizada para conceder liminares criminais. Dois desembargadores são investigados pelo CNJ [Conselho Nacional de Justiça]. Há elementos também que incriminam advogados", admitiu o desembargador. Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/policia/tjce-investiga-suposta-venda-de-habeas-corpus-nos-plantoes-1.997139


     Outro aspecto importante presenciado nas últimas décadas, refere-se um alargamento do entendimento da violência, uma reconceitualização de suas peculiaridades pelos novos significados que o conceito assume, de modo a incluir e a nomear como violência acontecimentos que passavam anteriormente por práticas costumeiras de regulamentação das relações sociais, como a violência intrafamiliar contra a mulher ou as crianças, a violência simbólica contra grupos, categorias sociais ou etnias, a violência nas escolas etc.

           Se cada uma dessas mortes tem sua história individual, as regularidades  de casos as que nos possibilitam inferir que, longe de ser resultado de decisões individuais tomadas por indivíduos isolados, estamos perante fenômenos de natureza social, produto de conjuntos de determinantes que se originam na convivência dos grupos e nas estruturas da sociedade.

        De acordo com o pensamento do sociólogo anteriormente citado, podemos concluir que a sociedade não é simplesmente o produto da ação e da consciência individual. Pelo contrário, as maneiras coletivas de agir e de pensar resultam de uma realidade exterior aos indivíduos que, em cada momento, a elas se adequam. Os resultamos apresentados no mapa da violência, indicam que as diversas formas de violência abordadas, longe de serem produtos aleatórios de atores isolados, configuram “tendências” que encontram sua explicação nas situações sociais, políticas e econômicas que o país atravessa.”


REFERÊNCIAS


BODART, Cristiano. O que é instituição social? In: http://www.cafecomsociologia.com/2013/01/o-que-e-instituicao-social.html

COSTA, Cristina. Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2002.

GUIDDENS, Anthony. Sociologia. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Sociologia. São Paulo: Àtica, 2008.

SILVA, Diego Sabóia e. Sociologia jurídica para principiantes. Sobral: Edição do autor, 2011.

TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o Ensino Médio. São Paulo: Saraiva, 2010)

WAISELFISZ, Júlio Jacobo. Mapa da Violência 2012: Os Novos Padrões da Violência Homicida no Brasil. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br
 



Total de visualizações de página

Quem sou eu

Minha foto
SOBRE A AUTORA: ANA CARMEM AGUIAR RODRIGUES (LICENCIADA EM CIÊNCIAS SOCIAIS, ESPECIALISTA EM ENSINO DE HISTÓRIA DO CEARÁ E ACADÊMICA DO CURSO DE DIREITO PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA. PROFESSORA SUPERVISORA DO PIBIB -SOCIOLOGIA NA ESCOLA DE EEFM MINISTRO JARBAS PASSARINHO EM SOBRAL-CE.) TEMOS COMO OBJETIVO CRIAR UM ESPAÇO VIRTUAL QUE POSSA SER SER COMPARTILHADO POR PROFESSORES, ALUNOS E LICENCIANDOS DE SOCIOLOGIA, PARTIR DA DIVULGAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO E O DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS, METODOLOGIAS E EXPERIÊNCIAS VOLTADAS PARA A INTERVENÇÃO, MELHORIA E DEFESA DO ENSINO DE SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA.